terça-feira, 15 de março de 2011

A velhice é barroca!

Aos domingos gosto de ir, pela manhã, ao Aterro do Flamengo. Sento-me em um banco que fica de frente para a baía de Guanabara, de onde tenho uma visão privilegiada do Pão de Açúcar à minha direita, do aeroporto Santos Dumond a minha esquerda, Niterói à minha frente e pessoas, muitas pessoas passando por mim.

Gosto de ficar ouvindo minhas músicas e observando pais que levam seus filhos para brincar ao ar livre e seus cachorros para passear, fugindo da prisão de suas casas. Fico ali imaginando sobre suas vidas, sobre seus problemas, amores e desejos. Divirto-me ao assistir uma criança se acabando de ir ao tentar pegar as bolas de sabão feitas por sua mãe (por que crianças gostam tanto de bolas de sabão?).

No último domingo, enquanto eu estava perdida em meus devaneios, uma senhorinha se sentou ao meu lado. Quando a notei, ela me olhou, sorriu e me deu bom dia. Percebi em seu rosto uma profunda tristeza e uma imensa necessidade de iniciar uma conversa. Mas como sou do tipo de pessoa que não se sente à vontade em conversar com estranhos, devolvi o sorriso, respondi ao bom dia e voltei para meus devaneios.

Alguns minutos se passaram e ela jogou conversa ao vento e disse: “bonito dia né, minha filha?” O som dessa frase, não apenas das palavras, mas o tom que ela utilizou para prenunciá-la, me fez pensar em minha vozinha ,e assim, me rendi a sua necessidade de falar e ser ouvida e passei a conversar com ela. Lógico que ouvi mais do que falei, mas foi uma conversa muito boa. Fiquei feliz por estar de alguma forma ajudando aquela senhorinha.

Fiquei sabendo de sua bela e triste história de vida. Como ela tinha sido feliz com suas escolhas e como as mesmas a mergulharam em uma profunda solidão e conseqüentemente em uma intensa tristeza.

Disse-me ela: “Quando era jovem, minhas prioridades eram outras. Queria trabalhar, viajar, ser independente. Não tinha tempo para ser amada, para amar, me doar a alguém, por isso não construí a minha família. Achava que eu já tinha minha família, meus pais, meus irmão, meus sobrinhos e isso me bastava. Hoje sofro as conseqüências de minhas escolhas... Não me arrependo do que vive, pois, fui feliz. O problema é que fui feliz, não sou mais, e disso eu me arrependo. Me arrependo de não ter pensado na velhice. A velhice minha filha, é muito triste e a solidão a torna insuportável.”

Não tenho vontade de ser mãe, nunca tive, mas essa conversa me fez pensar no futuro, em quando chegar a minha vez de estar velha. De uma coisa eu estou certa, nossas atitudes e escolhas de hoje, terão efeito direto em nosso futuro. Mas como saber o que fazer ou o que escolher? Por instinto, sexto sentido? Não tenho idéia da resposta, só sei que não posso parar minha vida até descobrir o que será melhor para mim, para meu futuro.

Devemos continuar vivendo e nos perguntar quais são nossas prioridades? São elas realmente importantes? Profissão, trabalho, sucesso, dinheiro, essas são prioridades da vida moderna. E a família? Acredito que a nossa família seja prioridade, mas criar a nossa família? Está em nossos planos? Abrir mão de sonhos está em nossos sonhos? Viver para outras pessoas está em nossos sonhos?

Após essa conversa, não sei mais quais são as minhas prioridades. Ainda possuo os mesmos sonhos e desejos, mas não sei mais precisar a importância deles em minha vida. A única certeza que tenho nesse momento é que vivemos a vida moderna, o avanço tecnológico, as mudanças de conceitos, a inconsistência da vida, mas a velhice, essa não evolui, nunca fará parte do modernismo, é, e sempre será barroca!